APOTEGMAS DUMA PENA DESOCUPADA – parte VI


Por Dartagnan da Silva Zanela

(LXXVII)
Perseverança é um ato de virtude firmado numa sólida vontade guiada por uma visão que perscruta para além do aparente. Já a teimosia é um ato vicioso firmado numa vacilante estultice que se deixa guiar por uma cegueira que se nega a enxergar os sinais mais evidentes de seu volitivo delírio.

(LXXVIII)
Nos canalhas, o destemor histriônico facilmente se revela vil covardia quando são defrontados com um pequeno ato de responsabilidade varonil. E assim o é porque assim são as figuras desse naipe: sempre ocultas numa manga suja para ocultar todas as suas imundas intenções.

(LXXIX)
O pior cego não é aquele que não quer ver, mas sim, aquele que poderia ver, mas não enxerga e, por isso mesmo, imagina ter a vista super aguçada, crendo-se apto para guiar os demais. Em muitos casos, esse tipo de gente, realmente, está à frente de multidões guiando-os numa longa marcha para o brejo.

(LXXX)
Quem não sabe, e tem medo, de conversar, não está apto ao mínimo convício civilizado. Quem não sabe, e não quer aprender, a ceder, não amadureceu e, bem provavelmente, nunca amadurecerá.

(LXXXI)
Abdicar dos nossos pequenos interesses umbilicais é afirmar algo maior e mais importante do que nós. Algo que nos engrandece quando temos coragem suficiente para negar toda nossa miudeza.

(LXXXII)
Quem não sabe calar e conviver silenciosamente, falando apenas o necessário, quando conveniente, definitivamente, não sabe conversar, não compreende o que fala e quer que tudo na vida gire em torno de seu mundinho, tão umbilical quanto egocêntrico. Infelizmente, figuras desse naipe, existem a rodo e estão em toda parte, seja aqui ou acolá.

(LXXXIII)
Encontrar uma pessoa melhor que você, mais benevolente, mais inteligente e com uma visão mais lúcida da realidade é uma tragédia apenas para as almas medíocres e pedantes. Para todos os demais é uma dádiva da Divina Providência, pois se nos encontramos cercados por pessoas piedosas, sábias e perspicazes, inevitavelmente, acabamos sendo tocados e engrandecidos com a grandeza irradiada por elas. E é justamente isso o que os medíocres não entendem; que eles jamais entenderão.

(LXXXIV)
Tempos atrás li uma coletânea de entrevistas e alocuções de Franklin Delano Roosevelt. O trigésimo segundo presidente dos EUA não está, para meu estragado gosto, entre aqueles que eu colocaria como um estadista exemplar, porém, é inegável que tenha sido um dos grandes do século XX. Das palavras de sua lavra, presentes nesse livro, encontramos várias onde ele falava da importância do espírito de boa vizinhança e de sua relação direta e fundamental para a formação duma sociedade democrática. Em resumidas contas, lembrava-nos ele da importância de sabermos respeitar o espaço do outro para manutenção da democracia; respeito esse que deve, necessariamente, começar na vizinhança. Aliás, são nessas relações cotidianas que reconhecemos o quão arraigadas devem ser as raízes da vida civilizada em nós. Raízes essas que se forem superficiais, artificiosas ou inexistentes, fazem a democracia ser apenas uma palavra desprovida de sentido e valor. Enfim, antes de ser um bom cidadão, procure ser um vizinho exemplar.

(LXXXV)
Amar não é dizer sim a tudo o que nos é pedido, nem passar a mão na cabeça do outro com aquele olhar miserável de dó. Muitas vezes, dizer não, admoestar, ser duro e dizer verdades amargas é a grande prova de amor que se pode dar. Uma prova não apenas para aquele que as recebe, mas também e principalmente, para quem tem que dizer e fazer o que é necessário, mesmo que isso aperte dolorosamente o seu coração. Pior! Muitas vezes faz o amado manifestar rugidos de ingratidão frente a quem quer apenas livrá-lo do mal que está sendo cevado pelas suas ingratas mãos. Enfim, somente os fortes, somente aqueles que amam a plenos pulmões compreendem essa dor. A dor de amar verdadeiramente sem frescuras e rompantes de bom-mocismo.

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