Por Dartagnan da Silva
Zanela
(1)
Santa Tereza d’Ávila tem sua
memória celebrada no dia 15 de outubro. Data em que, também, se comemora o dia
do professor. Sempre, nesse décimo quinto dia do mês da videira, fico a
perguntar-me o que a Santa Doutora teria a dizer a esse mísero ensinador que
sou e, bem como, a todos aqueles que têm a lousa e o giz como diapasão de sua
vida. Diria ela que devemos ter coragem diante de qualquer coisa, porque essa é
a base de tudo. Diria também para que jamais nos esquecermos que caminhar na
verdade é humildade e que todo caminho contrário a isso é, com o perdão da
palavra, apenas soberba mal disfarçada de coitadismo. Penso que seria isso.
Apenas isso, nada mais do que isso.
(2)
Quem, estando em sala de aula,
não tenha nunca se sentido como um jesuíta entre antropófagos, não sabe o que é
ser professor. Todavia, aquele que se sentiu como um missionário cercado por
canibais e não se portou com a altivez de um, nunca deveria ter optado por essa
carreira que, no fundo, não é nada, se não for vivida como a excelsa vocação
que é.
(3)
Todos podem reclamar do que os
incomoda; qualquer um pode queixar-se do que lhe desagrada. Entretanto, nem
sempre isso é conveniente. Na verdade, na maioria das vezes o queixume
desenfreado é mais indigno e humilhante que o sofrimento silencioso e
solitário.
(4)
Todos sofrem, uma vez ou outra,
pequenas injustiças aqui e acolá. Outras vezes somos nós os autores dessa ou
daquela injustiça que aferra fulano ou beltrano. Essas vilezas humanas são,
infelizmente ou não, praticamente inevitáveis e inerentes a nossa decaída
condição. Por isso, saber tolerar as pequenas injustiças do dia a dia é a pedra
fundamental da maturidade e, porque não, da civilidade. Protestar contra toda e
qualquer miudeza é o elemento comburente da barbárie ou, ao menos, um claro
sinal de infantilidade mal curada.
(5)
Triste época a nossa onde os
ódios em comum nos unem mais que o amor ao próximo.
(6)
Há uma profunda sabedoria em
todas as tradições e costumes que são hoje desprezados pela praticidade
contemporânea, como também há uma profunda e tola empáfia no olhar do homem
moderno que vê em tudo aquilo que ele não compreende, e que ele não quer
compreender, algo indigno e imerecedor de sua atenção, sem perceber, que toda a
indignidade está nele mesmo, claramente visível em seu mísero olhar.
(7)
Conforme bem nos lembra o
filósofo Jose Ingenieros, a educação seria, em princípio, a arte de capacitar o
ser humano para a vida social. Bem, se o referido filósofo estiver correto - e
eu acredito que ele, nesse quesito, está - que raio de educação é essa que está
sendo oferecida às tenras gerações em nossa decadente sociedade?
(8)
A excessiva confiança em si mesmo
é meio caminho andado para alienação de si e praticamente o carreiro completo
para a total imbecilização, seja ela individual ou coletiva.
(9)
A coragem moral, sem querer
querendo, isola os seus portadores do humano rebanho. Já a covardia moral
garante a unidade da multitude de bípedes bovinos.
(10)
Há povos que se orgulham de ter
entre os seus patrícios grandes santos e sábios. Outros tantos se ufanam de
encontrem em sua história destemidos guerreiros e criativos inventores. Nós, de
nossa brasílica parte, nos contentamos com um punhado de patetas midiaticamente
celebrizados ou ideologicamente idolatrados.
(11)
Todo aquele que reconhece suas
fraquezas e não manifesta a menor intenção de superá-las, deveria calar-se ao
invés de praguejar aos quatro ventos contra o fato de ninguém se apresenta para
resolver os problemas que ele mesmo não pretende resolver.
(12)
Da mesma forma que há
mediocridades que apenas nos assombram em nosso cotidiano, também há aquelas
que, vitoriosas, assombram a humanidade através dos séculos.
(13)
A pressa é amiga da confusão e
irmã siamesa da alienante incompreensão.
(14)
Todo aquele que afirma,
taxativamente, que todo ponto de vista é apenas a vista de um ponto, esquece-se
que entre os pontos e a visão há algo real que independe das vistas que pontuam.
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