UMA TRISTE MILONGA

Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

O estudo da história pode ser justificado de várias maneiras. Justificativas essas que tem em vista a realização de determinadas finalidades. Aliás, como toda e qualquer ação humana.

Dentre as muitas justificativas que se fazem presentes, podemos constatar com relativa clareza um propósito subjacente a todas: o de fomentar um inconfessável rancor difuso fantasiado de indignação cidadã em misto com uma atitude de irreligião materialista artificioso disfarçado de criticidade.

Quanto o magistério da referida disciplina funda seus alicerces nesse tipo de solo o resultado a ser parido é um só: a deformação das almas que passam a imaginar-se como sendo as criaturas mais justas e impolutas que já caminharam por esse mundo e que, por isso, acreditam que caberia a elas corrigirem os infindáveis erros que foram cometidos pelos nossos antepassados.

Pois é. Quanta soberba. Quanta presunção numa só época e presente no ensino de uma única disciplina escolar. Detalhe: ela não é a única que sofre deste mal.

De minha parte, penso que a “mestra da vida”, como em tempos pretéritos a história era chamada, deveria procurar alicerçar as estelas de seu ensino na humildade e na gratidão - virtudes fundamentais para a boa formação duma personalidade.

Ora, é importante lembrarmos que, apesar dos inúmeros pesares, aqueles que nos antecederam neste mundo tem, no mínimo, a experiência de suas vidas, bem ou mal vividas, a nos legar para aprendermos o que significa bem viver; experiência a qual muitíssimas vezes desdenhamos de modo estupidamente imoderado. E, gostemos ou não de ouvir, tudo o que nos foi transmitido pelas gerações de antanho é infinitamente maior e mais precioso do que tudo o que somos capazes de produzir em nossa porca vida imersa na mais tosca efemeridade.

Enfim, se não somos capazes de reconhecer essa obviedade ululante é sinal de que a perversão (anti)educacional atual da história já rendeu seus pútridos frutos em nossos desavisados corações.

(*) Professor, cronista e bebedor de café.

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