Por Dartagnan da Silva
Zanela (*)
(1)
Certas pendengas burocráticas
existem simplesmente para diminuir-nos em nossa mísera humanidade, pra nos
ocupar enfadonhamente com baboseiras formalmente fantasiadas de oca imprescindibilidade
para, desse modo, acabarmos não tendo mais tempo para aquelas bugigangas bem
nossas; para aquelas coisas que realmente importam.
(2)
Aprender qualquer coisa é uma
questão de disciplina; de autodisciplina. Sem ela, todo e qualquer acesso a
informação, principalmente em farta quantia, torna-se apenas uma futilidade
entre outras tantas que ocupam as almas que perambulam pelas vielas da vida
moderna. Idolatrar essa fartura informacional e desprezar afetadamente a
necessária capacidade de auto-ordenação é a própria idiotia travestida
superioridade hi tec.
(3)
Não sabermos de certas coisas é
muitas vezes o caminho para uma ilusão. Sabermos determinadas coisas é sem pôr
nem tirar o fundamento sólido para uma imensurável alienação. A galerinha dita
crítica que o diga.
(4)
Todo aquele que idolatra as
tecnologias de comunicação e que diz, de boca cheia, que elas são
importantíssimas para a (de)formação estudantil, deveriam, antes de dar pitacos
furados sobre educação, perguntar-se por que Steve Jobs, Bill Gates e tutti
quanti não entregavam essas tecnologias (tablets e companhia) livremente nas
mãos de seus filhos? Por quê? Outra: por que as escolas de elite dos EUA,
Inglaterra e etc., fundamentam a educação de seus infantes em procedimentos pedagógicos
tradicionais e não nas baboseiras modernosas que tanto encantam as almas
deformadas e desarmadas? Enfim, por que os países que obtém os melhores
resultados educacionais são justamente aqueles que não idolatram brinquedos
tecnológicos e, inclusive, baseiam a educação dos seus mancebos em velhos e
consagrados procedimentos pedagógicos? Por que meu caro Watson? Talvez, talvez,
porque eles avaliem todas as questões dessa seara seguindo o preceito que nos é
dado pelo Divino Ensinador que nos diz que devemos conhecer e julgar a cepa de
uma árvore pelos seus frutos e não pela fascinação impactante de sua frondosa
aparência que nos seduz de modo similar ao canto de uma sereia.
(5)
Você já ouviu falar de uma
carniça chamada psicose informática? Já ouviu falar dum trem fuçado chamado
dissonância cognitiva? Então deveria conhecer essas tranqueiras e pensar mais
no assunto com muitíssima seriedade antes de ficar idolatrando e apregoando aos
quatro ventos os supostos benefícios que a informática pode trazer para a
educação de nossos mancebos.
(6)
Não são poucos os caiporas que
veem com aquele trelelê de que as tenras gerações não deveriam aprender isso ou
aquilo porque elas jamais irão utilizar aquilo ou isso em suas vidas e se por
ventura algum dia elas tiverem que utilizar essas supostas tranqueiras
epistemológicas, poderão encontrá-las no grande oráculo dos dias atuais: a
internet.
Que lindo. Que fofo. Que bobagem.
Esse tipo de conversa, sem nada
pôr, sem nada tirar, é uma das maiores patacoadas pedagogescas de todos os
tempos; uma patacoada diabolicamente cínica, diga-se de passagem.
Explico-me. Ao menos tentarei.
O que somos não é, de modo algum,
somente o que utilizamos em nosso dia a dia, não mesmo. Na verdade, somos
muitíssimo mais que isso. Tudo aquilo que sabemos e que, em regra, não tem
serventia alguma no nosso cotidiano nos torna quem somos e, inclusive, faz
daquilo que realizamos diuturnamente algo único, especial e pessoal.
Ora, como é que Sherlock Holmes
resolve suas investigações? Através dum amontoado de conhecimentos
miseravelmente práticos aprendidos numa consulta rápida a um site ou por meio
de uma inabarcável quantidade de conhecimentos inúteis integrados em sua alma
que dão forma a sua fascinante personalidade?
Pois é. Somente um indivíduo
tapado, desprovido de personalidade é tão tonto ao ponto de ser incapaz,
totalmente incapaz, de compreender isso.
Ponto. E tenho dito.
(7)
Para que as pessoas na sociedade
atual possam estar desfrutando dos inúmeros benefícios que hoje temos, foram
necessários os esforços e os conhecimentos acumulados de inúmeras gerações. Foram
necessários milênios de esforços para chegarmos ao estágio em que nos encontramos.
Estancar o acesso a esses saberes
e desdenha-los, francamente, é uma baita sacanagem para com as tenras gerações.
Uma baita sacanagem, principalmente, para com as futuras gerações.
Pior! Isso é feito só porque uma
meia-dúzia de estultos sem talento consideram isso ou aquilo algo inútil. Outra
coisa: fazer isso é repetir o mísero trelelê utilitarista das pessoas que
apenas se importam com os frutos do silencioso labor alheiro, ignorando o quão
árduo e complexo é para criá-los e cultivá-los.
Tal situação prefigura a própria
realização das "profecias" do filme "Idiocracia". Quem não
assistiu, assista. Vale a pena não apenas pelas risadas.
Verdade seja dita: esse tipo vil
de gente sempre existiu e sempre existirá, porém, absurdamente, somente hoje esses
indivíduos acreditam que devam ditar os rumos da educação e, consequentemente,
o futuro de nossa sociedade.
Enfim, como diria o meu irmão: é
o fim da rosca.
(*)
professor e cronista.
Site:
http://dartagnanzanela.webcindario.com/
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