UM PINGO DE TINTA NO PAPEL

Por Dartagnan da Silva Zanela

(1)
Sempre que alguém vem com aquele trelelê de que tudo é relativo, que todo ponto de vista é apenas a vista dum ponto, confesso que me dá uma vontade de dar um belo dum sopapo na orelha do caboclo e dizer-lhe, calmamente que, ao contrário do que ele possa estar pensando, esse gesto não seria uma agressão de minha parte contra a sua pessoa, mas sim, apenas um gesto amoroso, um carinho, pois, segundo suas impensadas palavras, tudo é relativo.

(2)
Pois é, hoje é dia de Santa Terezinha do Menino Jesus. Dia daquela que se fez pequenina para elevar todos os demais; dia em que se celebra a memória daquela que caminhava silenciosa, em meio aos demais, servindo a todos sem ser percebida.

É. Felizes são as almas que tem como padroeira Santa Terezinha de Lisieux, que comemoram seu nascimento nesse mundo no dia em que comemoramos a entrada dela na Jerusalém Celeste.

De todas as passagens da vida de Santa Terezinha, a pequenina do Carmelo, a mais impactante, em meu ver, foi aquela onde ela, ainda menininha, ao ver a sua mãezinha doente, perguntou-lhe: “mãe, você vai morrer?” A mãe docemente disse: “não sei minha filha.” Terezinha, em sua meninice, disse-lhe então: “Ah! Vou ficar feliz se você morrer porque a senhora vai pro céu”.

Não foram exatamente essas as palavras que a Santa Doutora utilizou, mas foi exatamente isso o que ele falou para sua genitora. Palavras essas que sua santa mãe compreendeu com profunda clareza e que nós, filhos do século XXI, dificilmente conseguimos entender.

Nós, pessoas modernosas que somos, vivemos a vida e sofremos os dias de nossa jornada por esse vale de lágrimas sempre nos esquecendo que tudo não acaba aqui. Dizemos crer na vida eterna quando rezamos o CREDO, afirmamos que queremos que a Vontade do Pai seja feita em nossa vida, quando recitamos o PATER NOSTER, mas encaramos os dias como se após eles não houve um amanhã eterno.

Sim, tememos o destino. Somos pequenos e frágeis como nossa fé. Aliás, é uma grande tolice não reconhecer essa fraqueza fundamental. Por isso, e por muitíssimas outras razões, aprendamos com Santa Terezinha a sermos pequenos e fracos, a vivermos nossa pequenez na grandeza Daquele que se fez pequeno para nos engrandecer. Somente assim, e não doutro modo, não mais viveremos a finitude dos dias, mas sim, a eternidade da vida.

(3)
Não existe nada que deixe uma pessoa mais afogada em sua monotonia existencial que a procura tonta pela realização dessa meta tola, tão idolatrada nos dias atuais, que é a realização plena da artificiosa necessidade de ser feliz aqui e agora.

Eis aí a bobagem rainha de todos os disparates!

Sem entrar em detalhes sutis ou em traços gritantes, lembremos apenas duma coisa bem simples: quanto mais um indivíduo quer ser feliz, quanto mais ele corre a caça da sua dita felicidade, mais macambúzio e desorientado fica o abençoado, mesmo que ele se esforce em produzir uma imagem contrária que, por si, já é um grave sinal.

Por isso, pare de frescura e deixe de lenga-lenga. Deixe de lado essas elucubrações do arco da velha e cumpra com aquilo que é teu dever e ponto.

Dê um basta nesse choramingo, nesse rosário de auto-piedade bocó e procure ser uma fonte de consolo e, por que não, de inspiração para os outros e não um fardo de auto-comiseração que espera que todos sintam dó, desejando que qualquer um façam por você justamente aquilo que nem mesmo você tem coragem de realizar.

Enfim, cresça em espírito e verdade e seja sal da terra e não mais esse mórbido lodo salobro.

(4)
Pra ser bem sincero, não sou muito fã das piadinhas que os comediantes fazem da comandanta. Na verdade acho uma perda de tempo, uma tolice querer aprimorar uma piada que, em si, já atingiu o cume da perfeição hilariante jamais constituída e que, ao final, as gargalhadas sempre são o dobro do que não foi estabelecido.

(5)
Regra número um: todo aquele que ama bater no peito pra dizer que os seus direitos devem ser respeitados deveria, antes disso, listar para si se ele está cumprindo com todos os seus áureos deveres. E deve-se fazer isso porque simplesmente o que para uns é um direito, para outros é um dever. Simples assim. Por isso, numa sociedade onde todos são portadores de direitos e ninguém quer ver-se como titular de deveres, definitivamente é uma sociedade mimada até os gorgomilos incapaz elevar-se da bestialidade em que ela se vê mergulhada.

(6)
Uma sociedade que exalta a juventude é uma sociedade majoritariamente formada por pamonhas covardes. Uma multidão de pusilânimes que lava as suas mãos por medo de educar os mancebos com um exemplo edificante. Na verdade, os biltres anseiam ser e viver como eviternos moleques e, por isso, sem querer querendo, acabam estragando as tenras almas com seus mimos politicamente corretos e moralmente indevidos, haja vista que é bem mais fácil massagear-lhes o eco e atiçar-lhes a sua vaidade do que fazer o que deveria ser feito. Por essas e outras razões mil que essa geração de adultos é o que é, por isso mesmo, nossos jovens são o que são.

(7)
Você não tem direito a nada que não esteja disposto a lavorar para ter. Ponto.

(8)
Lutar por seus direitos é esforçar-se para ser digno deles. Todo o resto não passa de fricote ou de pura e simples canalhice.

(9)
Atualmente, os indivíduos que mais se sentem seguros são aqueles que geram toda ordem de insegurança.


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