POR ESSA EU NÃO ESPERAVA

Por Dartagnan da Silva Zanela

(1)
Se algo inimaginável ocorreu, não esquente a moringa, porque você possivelmente não poderá conceber qual será o próximo passo que será descortinado diante de suas vistas que, sem grandes margens de erro, será tão estranho quanto isso, ou aquilo, que o surpreendeu nestes últimos dias. Por isso, acalme-se e aguarde as cenas dos próximos capítulos desse grande pastelão que é a vida brazuca.

(2)
Em tudo há certo coeficiente de insanidade, porém, no caso brasileiro, a demência é a regra geral daquilo que se convencionou chamar de normalidade institucional.

(3)
No Brasil, tudo fica certo quando nada está combinado. Entretanto, basta ajustar as pontas aqui e ali pra que tudo desande ladeira abaixo.

(4)
Toda morte é uma tragédia, mas a de uma criança é algo que nos faz temer e tremer diante do monstro que podemos ser.

(5)
Pior que a ocasião que propicia o pecado é a nossa pronta disposição para nos colocar nela e realizar o que a dita nos sugere.

(6)
Uma das metáforas comumente para se refletir sobre a educação é a de uma escalada. Isso mesmo! Educar-se é como subir um monte e, conforme o escalamos, a visão que temos do outro, do mundo e de nós mesmos, dilata-se. Diante disso, acabe, penso eu, uma indagação: se não sentimos que estamos obtendo progressos diários em nossa jornada ascensional, se não sentimos, dia após dia, que estamos aprendendo algo que amplie nossa capacidade de compreensão, como podemos crer que estamos nos educando? Aliás, se não experimentamos isso, como podemos afirmar que somos pessoas realmente educadas e habilitadas para educar alguém? Pois é, foi bem isso que eu pensei.

(7)
É incrível como uma pessoa que desdenhe o trabalho de um autor presuma conhecer tão bem a obra e a personalidade do sujeito ignorado por ele.

(8)
Quanto mais tonto for o indivíduo, mais seguro de suas turvas convicções ele será.

(9)
O sistema educacional é tão perverso que consegue fazer com que o estudante zeloso de hoje torne-se o frustrado perdido de amanhã.

(10)
Antigamente, a grande sacanagem do sistema educacional era a de que ele dava aos neófitos a sensação de que eles tinham aprendido alguma coisa, mesmo que não tivessem aprendido nada de realmente significativo. Hoje, o trambolho é outro. Progrediu! Os garotos não são mais iludidos não. Os mancebos sabem que não estão aprendendo nada e, por isso mesmo, estão convictos de que, por essa razão, eles se tornarão cidadãos críticos, igualzinho a muitos militontos que andam por aí fazendo pose de sabidos para os seus.

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Se você é incapaz de enxergar o óbvio, não reclame, nem faça beicinho, quando for atropelado por ele.

(12)
O indivíduo que olha pro seu passado e sente orgulho de tudo que fez não passa de um baita retardado moral.

(13)
O Divino mestre sempre está a nos corrigir em nossa caminhada por esse vale de lágrimas. Dá-nos um pito aqui, um puxão de orelha acolá, mas, infelizmente, a teimosia originária é duma força tamanha que nos arrasta de volta pra lama de nossa leviandade cotidiana.

(14)
Quem quer parecer ter o controle sobre tudo e sobre todos, geralmente não é capaz de dominar a si próprio.

(15)
É engraçado ver como essa galerinha que tem uma solução para todos os problemas que atordoam a nação não terem ainda encontrado uma solução razoável para os problemas que atormentam a suas vidinhas sem razão.

(16)
A grande tragédia do nosso país não é que os brasileiros de um modo geral não saibam votar, mesmo que não saibamos fazer isso direitinho. Mais grave que isso é que aqui, nestas terras de tupinambás, não sabemos que amigos, bajuladores, companheiros de gole e tutti quanti são substancialmente diferentes uns dos outros.

(17)
O apego excessivo a tolices lúdicas é um claro sinal de infantilismo encruado. Pior! O tongo pensa que isso o torna uma pessoa espirituosa.

(18)
Quando Confúcio disse que devemos educar a criança para não punir o homem, ele não estava dizendo que devemos desmantelar o aparato policial ou extinguir as punições. Num sentido amplo, tanto o aparato policial, como as penas previstas pelos costumes e pelo código penal, fazem parte do processo educacional. A possibilidade de danação temporal é um instrumento fundamental para que os indivíduos aprendam a respeitar os limites razoáveis da ação humana, da mesma forma que a panela que cozinha a carne e queima nossa mão nos ensina que existem limites ontológicos para as nossas intenções. Por isso, quando tornamos as normas gelatinosas, quando transformamos as punições em impossibilidades risíveis e convertemos a educação numa máquina de deformação da personalidade humana que reduz tudo ao nível dum coitadismo rasteiro, não estamos aplicando, de jeito nenhum, os ensinamentos do autor dos Analectos; estamos, sim, pervertendo-os.

(19)
Desonestidade é uma forma de preguiça moral. Ela, como toda e qualquer virtude, exige de nós um grande, constante e perseverante esforço. Por isso não adiante insistir, sem se iludir, com a boa-vontade das almas gelatinosas. Elas não têm categoria pra tanto.

(20)
Errar é humano, porém, errar e continuar cometendo os mesmíssimos erros por puro orgulho e vaidade é burrice elevada à enésima potência. Pior! De um modo geral, os caboclos que vivem desse jeitão, adoram contar vantagem de suas absurdidades, achando-se mui espertos por serem tão perseverantes em sua degradante estultice voluntária.

(21)
Quem precisa da aprovação chantagista de panelinhas histéricas não passa de uma miserável carcaça com alma de batata.

(22)
O sujeitinho que vive com esse nhenhenhém de cidadão crítico, pensa que choramingar e ficar reclamando de miudezas fará dele um hominho respeitável.

(23)
A livre e leviana interpretação dum texto sacro é uma clara demonstração dum orgulhoso desprezo pelo próprio texto que é tido como objeto de veneração.

(24)
Quem tem medo de surpreender-se é incapaz de amar a procura pela verdade que se faz presente nas amareladas páginas da História.

(25)
Quem não controla a cabeça inferior, cedo ou tarde, acaba perdendo a cepa superior.

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