OUTRAS NOTAS E RABISCOS

Por Dartagnan da Silva Zanela

(1)
O problema de certos indivíduos é que eles reivindicam um respeito, digo, uma admiração que eles não são capazes de inspirar. Não que esses tipos não mereçam a sua cota de respeito. Não mesmo. Merecem a mesma cota que é devida a qualquer ser humano. Nada mais, nada menos que isso e ponto final. De mais a mais, a reverência exigida muitas vezes por gente desse naipe é apenas devida àqueles que realizaram a grandeza em suas vidas. Por isso, se somos dessa raça, ou estivermos nos portando como tal, tomemos vergonha nas ventas e paremos de exigir aquilo que, bem, deixe pra lá. Acho que já deu pra entender.

(2)
Uma multidão de soldados, silenciosa e anonimamente, sangra e morre pra manter a ordem e a paz que é desfrutada por cidadãos politicamente corretinhos que podem ter seus tiques de afetação sem que suas vidinhas corram nenhum risco. E essas mesmas alminhas, limpinhas e críticas, são incapazes de demonstrar o menor sentimento de gratidão por essa multidão de anônimos e silenciosos soldados que morrem e sangram por cada um de nós.

(3)
Cão que ladra pode até não morder, mas com toda certeza está morrendo de raiva e se tiver uma oportunidade, por pequena que seja, morderá.

(4)
Da mesma forma que as mais belas flores que um dia murcham e morrem para que o ciclo do bem e do belo possam revelar a verdade da vida, tudo que é bom um dia acaba pra não terminar. Não é à toa que somente as mentiras e as ideologias queiram ficar pra semente, pois ambas são estéreis, malacafentas e avessas a Verdade e a vida e, por isso, insistem em continuar aquilo que nunca irão começar.

(5)
Uma panelinha de militontos incomoda muita gente. Uma multidão de militontos pode até matar. Mas um militonto, só, é apenas o que é e nada mais.

(6)
Muitas almas puras sujam suas mãos todos os dias para que alguns espíritos suínos possam parecer ter patas limpinhas.

(7)
Atender a um pedido de oração, antes de ser um ato de caridade, é um dever de todo Cristão. Obrigação essa que deve ser realizada de pronto, mentalmente, em Espírito e Verdade, logo que o pedido seja feito.

(8)
Não se pode salvar o mundo com a defesa constante dum simplório sistema ou pela implantação doutro tão o mais medíocre que o existente. Outra coisa! É impossível haver paz quando se incompreende, profunda e absolutamente, o que seja a caridade. E tem mais! Não é possível que haja ordem sem a luz que irradia de pessoas que procuram amorosa e abnegadamente viver a santidade. E te digo outra! Sem a luz dos santos o mundo fica a tropicar e a perambular em meio aos devaneios e desmandos babilônicos. É isso. Todo o resto não passa de gambiarra.

(9)
Grandes mestres, como Hugo de São Vitor, nos ensinam que a educação realiza-se apenas quando nos esforçamos em obedecer docilmente à verdade. Obediência e docilidade essa que se resume no cultivo da virtude da humildade que nos auxilia na compreensão do mundo e de nós mesmos; para compreendermos que é de fundamental importância que dilatemos o nosso entendimento para apreender a verdade. Sem essa virtude, não há crescimento moral e intelectual; não há educação. Não é à toa que em nosso país estamos dando passos tão avantajados para o brejo. Aqui, desde tenra idade, o que se cultiva é a revolta e a indolência frente às verdades mais elementares para que, desse modo, a vaidade infle o nosso ego, levando-nos a imaginar que nossas ideiazinhas e desejos desordenados são maiores e mais perfeitos que a própria realidade. Em muitos casos, somos adestrados a ignorar o que seja ela para mais facilmente nos auto-enganarmos e assim, sermos mais tranquilamente manipulados.

(10)
O erro mais frequente que podemos cometer em nossas meditações e investigações é o de confundir um fragmento da realidade com a realidade. Outro que também ocorre com certa regularidade é o de confundir-se uma abstração qualquer com a totalidade do real.

(11)
Não é a verdade que é relativa; nossas opiniões é que são. Podemos até chamá-las de “nossas verdades”, mas isso não muda a natureza delas. As opiniões, em sua maioria, não passam de verbalizações tecidas a partir de um punhado de sentimentos desordenados sobrepostos a um tanto de impressões subjetivas que, em muitos casos, compartilhamos com nossos iguais para reforçar os auto-enganos que tanto amamos.

(11)
Quando se nega a objetividade da verdade e desdenha-se a necessidade de procurá-la, sem percebermos abolimos a liberdade em favor da tirania da relatividade e, desse modo, sem querer querendo acabamos por limpar o terreno para o exercício das mais vis arbitrariedades.

(12)
A responsabilidade é o leão-de-chacra da moral. Se você não se sente mortalmente responsável por nada, nem por você mesmo e por suas levianas miudezas, seria bacana criar um pouquinho, só um tiquinho, de vergonha na cara, parar de dar piti politicamente correto; de fazer pose de gente crítica e sabida. Enfim, seria um ótimo começo, tomar tento e largar mão de ser tão desonesto e jaguara consigo mesmo e, quem sabe, até virar gente.


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