APOTEGMAS DUMA PENA DESOCUPADA – parte VIII

Por Dartagnan da Silva Zanela

(CV)
Há pessoas que são como banheiros quebrados de um ônibus velho: não servem pra nada e nada valem e, por nada serem, são incomodamente marcantes como o que há no fundo da latrina rodante.

(CVI)
Digo e repito o dito de Nelson Rodrigues: “Marx é uma besta”. E digo outra: o caboclo tem que ser muito besta para não perceber isso.

(CVII)
O erotismo nos civiliza. A pornografia, por sua deixa, nos reduz a bestialidade. Assim nos aponta Vargas Llosa num capítulo do seu “La civilización del espectáculo”. E de fato, quando vemos a forma animalesca como muitos falam sobre sexo em todo e qualquer ambiente e em qualquer ocasião, não temos como negar essa obviedade ululante: hoje vivemos numa era do cio perene onde a vulgaridade foi elevada a categoria de virtude primeira de todo cidadão, como descrito no "Admirável mundo novo" de Aldous Huxley. Enfim, estamos vivendo numa era degeneração geral e a galerinha acha isso tudo muito legal por ser bestial.

(CVIII)
Há pessoas que são como vulcões: frequentemente são calmos e mantêm-se assim, mesmo diante de toda e qualquer intempérie; porém, lá pelas tantas, sem aviso algum, explodem num terrificante espetáculo de fúria. É raro, mas quando acontece, sai de baixo! Há também pessoas que são como intestinos desarranjados. São barulhentas e inconvenientemente constantes em seu alarido. Não dão folga alguma; são vulgares tanto sob o sol como abaixo do brilho pálido da lua. Porém, quando esses tipos não se fazem mais presentes, quando são evacuados por qualquer razão que seja, a dignidade do silêncio volta a fazer morada novamente entre nós.

(CIX)
A democracia para florescer e dar bons frutos necessita dum povo que tenha sua têmpera fortemente alicerçada em princípios morais universais. Caso contrário, não. Aliás, onde a deformação educacional e a incivilidade são a regra, a única semente que pode ser plantada são as do democratismo, cujos frutos nada mais são que a tirania duma massa tão mimada como mal educada. É impossível falar-se da primazia do bem comum para uma patuleia que pensa que seu umbigo vulgar seja o centro da realidade. Nada dá mesmo. Nesses casos a civilidade e a democracia são reles impossibilidades.

(CX)
Toda e qualquer ideologia seria nada mais que a expressão de uma irracionalidade apaixonada e, como tal, inimiga da verdade, incompatível com a paz e a justiça e, invariavelmente, elas são a causa fundamental da degeneração da dignidade humana originária.

(CXI)
Antigamente gente mal educada, no sentido moral, era enquadrada em seu devido lugar. Hoje em dia eles tornam-se otoridades ou são colocados na condição de assessor desses (ASPONE). E tem gente que nutre alguma esperança que esse país deixe, um dia, de ser um manicômio.

(CXII)
Onde a devassidão impera a esperança se entrega, faz as malas e vai-se embora sem avisar.

(CXIII)
Religião praticada em espírito e verdade é uma disciplina para alma. Quando não atenta-se para esse objetivo, facilmente o praticante da religião converte-se num reles ateu prático, num sujeito que diz crer em Deus, que cumpre com os rudimentos formais que lhe são exigidos, mas que vive como se Aquele que é não existisse, sem necessariamente negá-lo conscientemente. Enfim, pessoas assim, seriam as almas mornas indicados pelo Livro do Apocalipse e que tanto abundam por essas terras cabralinas.

(CXIV)
Paul Claudel nos ensina que as grandes verdades só se comunicam através do silêncio. Já o que é comunicado pelas barulhentas almas sebosas nada mais é do que apenas o desespero duma vida sem sentido imersa nas sombras duma mal disfarçada alcova de profunda tristeza. Essa é a razão dos gritos e do ininterrupto riso histérico: dissimular felicidade para tentar esconder o que todos, com dó, veem.

(CXV)
Quando uma pessoa aproveita-se da relativa invisibilidade que um espaço público pode nos oferecer para achincalhar e avacalhar com os demais que se encontram no mesmo local, tal gesto revela-nos um aspecto oculto desse tipo de pessoa: desespero puro e simples.

Somente uma alma que vive uma vida sem sentido procura chamar a atenção de maneira tão insistente quando vulgar em ambientes que necessariamente não foram feitos para isso. Aliás, qual seria o local apropriado para esbórnia geral? Pois é...

Enfim, no fundo, o barulho e a baixaria não tem o propósito de atormentar os outros não, apesar de infernizar a todos sim. Toda a gritaria histérica tem o propósito de ensurdecer os seus próprios ouvidos e, desse modo, não ter que se defrontar com a sua própria insignificância. Por isso, sinceramente, chego até ter pena desses pobres walking dead.


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