APOTEGMAS DUMA PENA DESOCUPADA – parte XI

Por Dartagnan da Silva Zanela

(CXXXVIII)
Há em cada um de nós uma porção de Odisseu e outro tanto de Telêmaco. Verdade seja dita, há em nós um bom tanto de personagens que nos fazem companhia, porém, esses dois são fundamentais. Frequentemente encontramo-nos perdidos na tentativa de acertar o rumo de nossa jornada e, com regularidade similar, nos sentimos incertos quando a origem de nossa existência.  E, nessa tensão, forjamos nosso ser; um tanto sendo absorvidos pelas circunstâncias que a vida nos apresenta, outras vezes absorvendo-as para fazê-las nossas. Nas duas possibilidades, cônscios ou não, vamos tornando-nos aquilo que devemos ser; realizando quem nós escolhemos nos tornar em nossa jornada rumo a nossa Ítaca pessoal.

(CXXXIX)
O estudo é similar a escalada de uma montanha. Exige planejamento, disciplina, constância e muita perseverança. E mesmo que esforcemo-nos pra caramba, a queda é uma, entre muitas, possibilidades.

(CXL)
O silêncio e a constância são a expressão visível da serenidade da alma. O alarido e a leviandade são a evidência irrefutável do desespero reinante na alma de um ser perturbado.

(CXLI)
Educação doméstica, aquela dita cuja que vem de casa, é o mínimo necessário para saber conviver. Porém, quando algumas almas carecem desse elementar rudimento humano, todo o corpo social padece com a animalidade exibida por essas criaturas. E o mais curioso nesse borogodó todo é que os indivíduos que não tem a dita educação de berço, não sentem a menor falta dela. Pior! Quanto menos tem menos falta sentem. Para não nos delongar, podemos resumir o entrevero nos seguintes termos: não se pode sentir falta daquilo que nunca se teve; e por nunca ter recebido essa dádiva em seu ninho familiar, é mais que compreensível que essas humanas caricaturas achem a coisa mais linda do mundo não tê-la.

(CXLII)
Tipos disformes abundam em nossa sociedade. A variedade de aberrações morais é imensa, porém, há uma que realmente é pior que uma chusma de pernilongos em uma noite de verão à beira duma sanga. São as mediocridades que creem ser algo só porque se encontram amontoadas com outras mediocridades. Separem-nas dos seus iguais e as petulâncias empavonadas em massa converter-se-ão no que de fato são: uma triste nulidade. Às vezes, nem isso.

(CXLIII)
O Venerável Fulton Sheen diz-nos que o verdadeiro ópio do povo é o marxismo em suas mais variadas manifestações simplesmente porque a dita ideologia totalitária promete ao povo aquilo que jamais poderá ser criado por mãos humanas: um paraíso terreno. A maior parte da América Latina, e o Brasil de maneira especial, estão bem viciadinhos nessa dita droga que tem produzido tantas e tantas aberrações alucinadas que estão consumindo todos os recursos da sociedade.

(CXLIV)
A noite dos tolos envolve nossas ilusões para que elas não sejam dissipadas pelo brilho esplendoroso do sol da verdade.

(CXLV)
As almas centradas são como rochedos ao pé de um monte: dão testemunho de sua solidez frente a todas as intempéries que lhe assaltam. As almas fragmentadas são como latrinas: todos que passam perto delas testemunham o aroma fecal que exala do fundo de seu ser.

(CXLVI)
É importante que não nos esqueçamos jamais o dito de São Josemaria Escrivá onde o mesmo nos lembra que ócio não é, de modo algum, sinônimo de não fazer nada. No tempo ocioso sempre estamos fazendo algo; e é justamente aí que a porca torce o rabo, porque nas horas vadias, geralmente, não estamos fazendo o que devemos, mais sim, o que é de nosso gosto e esse, gostemos ou não, revela cristalinamente quem somos.

(CXLVII)
Por não termos um conhecimento apropriado de quem somos e do que podemos ser, acabamos por fingir ser o que não somos e, em vista disso, ab-rogamos todas as possibilidades daquilo que deveríamos nos tornar.

(CXLVIII)
Jamais invejemos os louros mundanos e materiais obtidos pelas almas torpes, porque invejá-los é tornar-se semelhante a eles carcomendo-se por não ser igual a eles.

(CXLIX)
Para tudo há lugar; há lugar pra tudo. Até cães e gatos sabem disso. Os segundo mais que os primeiros. Entretanto, há pessoas que ignoram isso, não porque tenham caído ao nível rasteiro da animalidade. Não. Elas estão abaixo dessa condição. Essas alminhas desprezaram a sua humana condição por preferirem fazer de seus umbigos a única "realidade" de sua petulante existência. Não é à toa que a palavra respeito não encontre abrigo em sua algibeira e, por isso mesmo, tais indivíduos vivem bem abaixo do nível dos cães, gatos e demais animais. Basta ver para constatar que não são poucos os que vergonhosamente vivem assim.

(CL)
Brasileiro adora vangloriar-se do tal “jeitinho” como se isso fosse um traço de distinção e civilidade. Esquecemo-nos que o dito cujo não passa de mera malandragem.

(CLI)
Muitas vezes tentamos tapar luz da verdade com a peneira do auto-engano. E até conseguimos fazê-lo, para salvaguardar nossas tolices; porém, tal gesto não é capaz de ocultar a nossa evidente idiotia.


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