APOTEGMAS DUMA PENA DESOCUPADA – parte II

Por Dartagnan da Silva Zanela

(xix)
No Brasil atual ninguém mais quer saber de ensinar a prática do autocontrole para as tenras gerações. Nem mesmo deseja-se que os adultos cogitem o seu cultivo. Foi-se o tempo em que isso era um elemento indispensável para uma boa formação. Mas espere um pouco: quem disse que isso deixou de ser fundamental? Quem? Ah! É claro: os “Xênios” doutos em educação que nunca educaram ninguém, nem a si mesmos, mas que influenciaram gerações e gerações com suas ideias furibundas. Por isso, sem delongas, vale lembrar que se estamos ocupando as últimas colocações nos testes internacionais deve-se muito, mas muito mesmo, a essas alminhas sebosas com suas ideias e propostas delirantes.

(xx)
Chega ser ridículo vermos um indivíduo enervar-se simplesmente porque estão pedindo que ele cumpra o que é de seu dever. Mais ridículo ainda é esse sujeito dizer que apenas cumprirá com suas obrigações se todos também cumprirem, como se todos fossem irresponsáveis na mesma medida e proporção que ele o é. Sei que isso é coisa de criança mimada, mas, fazer o que? O Brasil está cheio de adultos que se esqueceram de crescer, não é mesmo?

(xxi)
Humberto de Campos dizia que as palavras dos homens só têm algum valor, mesmo, quando eles as proferem acordados. Se levarmos isso ao pé da letra e considerarmos a falta de seriedade que impera em nosso país, definitivamente nos transformamos num país de sonâmbulos, de sonsos mal acordados bem variados das ideias.

(xxii)
Com grande frequência, no Brasil, disfarça-se a preguiça e a má vontade com rompantes de cidadanite indignada.

(xxiii)
A mendacidade humana é tamanha que não cansamos de nos considerar maior que o Criador de tudo e de todos ao mesmo tempo em que nossa pequenez e insignificância frente à criação são constatadas em nossa brevíssima passagem por esse pequenino planeta perdido no meio da imensidão do Universo. E, por essas e outras que, possivelmente, prova de mediocridade maior não há do que achar-se divino por saber digitar umas palavrinhas bobas numa telinha com as mãos.

(xxiv)
Machado de Assis confidenciou em carta para Joaquim Nabuco que a leitura de Blaise Pascal era, para ele, uma necessidade. E para nós a leitura do que seria uma necessidade existencial imperiosa?

(xxv)
Toda alma sebosa acredita ser detentora de alguma suposta sabedoria infusa que o dispensaria de todo e qualquer estudo e, é claro, dos dissabores duma sincera reflexão. Pior! São justamente esses indivíduos que acreditam que tem algo importantíssimo para nos dizer sobre tudo o que eles nunca realmente se interessaram em conhecer.

(xxvi)
Se olharmos o Brasil pelas lentes do Bruxo do Cosme Velho compreenderemos que nessa terra de desterrados não há tragédias. Não mesmo. Aqui, toda e qualquer fatalidade, que poderia ser uma tragédia, dissolve-se no fingimento congênito reinante convertendo-a numa pizza de absurdos temperada com um ridículo que inegavelmente é todo nosso.

(xxvii)
Uma das grandes patacoadas da pedagogice modernosa é aquela que reza que o bom aprendizado deve ser prazeroso e blablablá. É inegável que há momentos de regozijo no ato de aprender. Todavia, todo aquele que trilhou por essa densa floresta sabe muito bem que os dissabores não são poucos. Decepções consigo mesmo, com o que imaginávamos saber, com o que esperávamos descobrir, enfim, muitas vezes dói muito o perseverar pela via da procura abnegada pela verdade. Como diriam os guris de hoje, ela muitas vezes é bandida.

Não é à toa que os concidadãos de Sócrates não mediram esforços para livrar-se dele. Apontar para tão áspero caminho é inconveniente por demais para aqueles que firmam seu caminhar por medianas estradas; da mesma forma que se compreende por que Kant conclamava os seus contemporâneos a ousarem saber, porque para conhecer qualquer coisa com a devida e indispensável seriedade é indispensável uma boa dose de ousadia, de coragem.

Por essas e outras que essa conversa mole de prazer no ato de aprender não é um convite para a sabedoria não, é conversa fiada e sem vergonha de gente que consegue, no máximo, ler um livreto de auto-ajuda, ou de coitadismo crítico, tamanho o hedonismo que se apossa de seu olhar.

(xxviii)
As contradições da vida revelam a verdade sobre nós. E é em meio a elas que habita a sinceridade que pode germinar e florescer em nossa alma.

(xxix)
Devemos ser um claro sinal de contradição frente à mundanidade reinante, não um simpático símbolo de concordância; muito menos uma conformada sombra dessa pútrida iniquidade geral.

(xxx)
As pedras presentes nas trilhas da vida não são obstáculos em nossa jornada. Elas são, na verdade, importantes sinalizadores do rumo que pode ser dado a nossa marcha. Tudo depende de como as interpretamos e de que maneira reagimos aos tropeços.

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